31 de março de 2009

Sonhos


Houve um tempo em que meu maior sonho era Morar na cidade. Hoje, queria uma casa no campo.
Em outra época sonhava em ir passear no centro da cidade sozinha. Hoje, penso em juntar meus amigos e familiares em uma praça e pernoitar por lá.
Houve um tempo em que desejava ter uma geladeira em casa. Hoje queria poder encher a que tenho de tudo que preciso.
Passei anos planejando encontrar os melhores amigos. Hoje queria ter tempo para ficar ao lado deles.
Já sonhei em ter uma bicicleta caloi. Hoje queria que minhas pernas susportassem uma voltinha em uma.
Sonhei que lutaria nas trincheiras. Hoje queria ao menos poder participar de uma manifestação de rua.
Sonhei com um grande amor, com suscesso profissional, com estabilidade financeira, com avanço da sociedade... Ah, muitos consegui realizar parcialmente, outros por completo, outros ficaram só em sonho mesmo. E muitos não tive tempo de sonhar.
Alguns sonhos eram audaciosos, outros ingênuos e houveram sonhos picantes também... Por que não? Quantos sonhos inatigíveis... Mas o bom dos sonhos é a liberdade para a ousadia não é?
Já o sonho mais gostoso, mais lindo, mais inexplicável, eu não havia parado para sonhar e nem havia tido coragem para isso. Ele é lindo, inteligente, encantador, dono do sorriso mais cativante que já vi, dos olhos mais expressivos e de muita garra, voracidade e personalidade forte. Tem a beleza inenarrável e está aqui, dormindo ao meu lado, com uma respiração tranquila depois de tomar remédio, pingar sorinho no nariz e receber uma bela inalação. Se chama Ana Rosa!!!
Não parei de sonhar, nunca paro. Mas agora sonho que um dia poderei ver a Ana gripada e não me preocupar se essa gripe vai evoluir para uma pneumonia. É não temer que cáries e infecção de garganta abram ''portas'' para bactérias se alojarem no seu coração e causarem endocardite. Não achar que o baixo peso seja causado por déficit cardíaco. Sonho com o dia em que não precisarei observar a Ana brincando lindamente e me lembrar que uma cirurgia a espera. Sonho que não mais precisarei me preocupar com obstrução de via de saída de ventrículo nenhum. Sonho que não haverá necessidade de reoperação. Sonho que ela será sempre uma pessoa feliz e saudável.
Sonho. E até que tantos sonhos se realizem, faço o que estiver ao meu alcance para o bem estar do sonho que eu não havia parado para sonhar, ou sonhava incoscientemente, por que tinha medo de sonhar e ser daqueles sonhos que a gente pode apenas sonhar.

29 de março de 2009

O mar e ela


Ele me parece confuso, indeciso. Vai, mas volta. Ele tem vida, dá vida. Como ela.
Pode derrubar uma pessoa, um barco, um navio. Como ela que derruba tantas barreiras.

Ora ele é tranquilo, ora é furioso. Como ela, que é tão doce e tão geniosa. Brava.

Ele nos convida a adentrar a ele, mas não temos coragem de ir tão fundo.

Ele nos encanta com sua beleza, com seus mistérios, com sua força. Assim como ela.

15 de março de 2009


MÃE DE CARDIOPATA...
Ser mãe de cardiopata, é abdicar de planos e sonhos para viver uma vida de incertezas e sustos.
É travar pequenas batalhas todos os dias esperando que no final da luta saíamos todos vitoriosos, quando na verdade a grande vitória é nos mantermos de pé.
É torcer todos os dias para que possamos ver nossos filhos crescerem, irem a escola, namorarem, casarem terem seus próprios filhos, mas acima de tudo, amar tanto, tanto, que em alguns momentos apenas desejamos que eles não sofram mais.
É aprender a compartilhar a dor, entendendo que dor de mãe não tem tamanho nem intensidade, é simplesmente DOR.
É descobrir que ser mãe é ter um estoque infinito de AMOR e de FORÇA, é brigar como nunca imaginamos que poderiamos, é chorar, rir, se desesperar, mas nunca desistir.
É ter marcas que jamais se apagam, que nos fazem recordar o quanto tudo valeu a pena.
É sentir a angustia da impotência e a felicidade de podermos estar aqui para dar a mão a estes seres tão especiais.
É não saber até quando teremos estes anjos conosco, e mesmo assim, agradecer cada minuto que estamos ao seu lado.
É finalmente compreender que amor de mãe não respeita tempo nem espaço, ultrapassa os limites do infinito e da própria vida, sempre existiu e sempre existirá.

Por Valéria Guimarães de Macedo


http://www.pequenoscoracoes.com/

Comunidade da Ana no orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=38633089


12 de março de 2009

O livro


O livro que estamos lendo. Seu título é O MENINO MAROM, do ziraldo.
Ela não sabe o significado da letras, esse livro contém pouquíssimas figuras, mas ela se encanta de uma forma adimirável por ele.
Sempre sonhei em um dia ler com ela, mas confesso que algumas vezes achei que já mais realizaria tal sonho. Por isso na imagem estou assim, apaixonada!
Ela ama livros, mas esse é o que ela pega primeiro e me mostra cada página.

Quem sou...


Eu beijo pouco, mas amo intensamente. Eu falo muito, mas ouço com bastante atenção. Sou militante internacionalista. Sou esposa, mas não em tempo integral. Sou mãe, daquelas que se preocupa, cuida, adimira as pequenas coisas da filha, chora ao nascer o primeiro dente, que vai várias vezes a noite ao pé da cama para se certificar que está tudo bem... Sou mulher consciente da opressão exploração ao nosso gênero e nossa classe. O fato é que... Não me conhecerão, nem me entenderão se não conhecerem e entenderem a minha vida.

2 de março de 2009

Por que você me faz feliz

Sou uma mãe feliz, muito feliz. Porque tenho uma filha linda, inteligente, sorridente, peralta, guerreira, lutadora, vitoriosa... Que é meu maior orgulho, por ter lutado bravamente, como uma leoazinha para sobreviver. E foi uma vencedora!
A Ana Rosa nasceu com 3 defeitos no coração (Dupla via de saída do ventrículo direito, Comunicação interventricular e Coarctação da aorta). Para os leigos que não estão acostumados com os termos os nomes são complicados, talvez não signifiquem nada. Mas para nós significa: O medo da morte levar para longe dos nossos olhos a nossa Pequena. O sofrimento e o sentimento de impotência. Sustos e mais sustos. Significa deixar nosso tesouro em um hospital em uma noite de chuva, ligada à diversos aparelhos, toda cortada, cheia de agulhas, enquanto passávamos as piores noites em casa, sem o seu cheiro, sem seu chorinho, com seu berço ocupado por uma boneca. Significa lutar contra o tempo, sem conseguir conter as lágrimas e os pensamentos negativos. Sem conseguir controlar a ansiedade e o frio na barriga ao atravessar os corredores até chegar no quarto da uti. Siginifica não segurar as lágrimas a cada visita do médico: Quando ele dizia que ela estava bem ou que estava mal.
Siginifica desespero em dias de cirúrgia. Significa não tomar remédios que controlam minhas dores só para não dormir enquanto ela estava sendo atendida pelos profissionais da saúde. Significa para o Jé dias de trabalho sem conseguir se concentrar por que estava longe da Princesa dele. Significa um misto de sentimentos indescritíveis para os que não passaram pelo que nós pais de cardiopata passamos. Significa o medo do futuro.
Mas siginifica também novos amigos, novos aprendizados. E que aprendizados! Ah, tudo que aprendemos com esses defeitos no coração da Ana não aprenderíamos em dez anos de formação...
Significa alívio ao trazê-la para casa.
Significa horas a fio apreciando seus avanços, cada passo da sua recuperação, encantamento a cada progresso, a cada descoberta.
Mais lágrimas a cada abraço apertado que ganhamos dela, a cada palavra que aprende, a cada dente que nasce, a cada passo que dá...